9 de junho de 2013

Ciência no escuro

Cavernas do Brasil: Ciência no escuro
Sugerido por Carla Pereira: Secretária e Membro do Guano Speleo
Fonte: National Geographic Brasil - Edição 159/ Junho de 2013
Por Adriano Gambarini [texto e foto]



" Apenas 10% dos animais das cavernas brasileiras foram estudados até hoje, entre eles alguns pequenos crustáceos "


" Com uma rede de coleta, Maria Elina Bichuette busca animais aquáticos no rio da lapa Vereda da Palha, em Minas Gerais "
A escuridão é absoluta. O que enxergamos não vai além de uma estreita área iluminada pela luz fraca e amarelada do carbureto dos capacetes. Ao observar as lanternas esparsas focadas no solo ressequido do salão em penumbra, de repente me vem à lembrança o rio Betari, no interior de São Paulo, nas noites sem lua em que seu vale era dominado por milhares de vaga-lumes voando rente ao chão. O silêncio é ensurdecedor e, ao mesmo tempo, orquestral; gotículas de água que despencam do teto agregam sons agudos a uma melodia minimalista.

Espalho dezenas de flashes pelos cantos da caverna na serra do Ramalho, no sertão baiano, tentando fotografar apenas com a tecnologia de temporizadores e disparos remotos. Enquanto isso, os cientistas que acompanho se debruçam sobre montes de guano de morcegos, vasculhando o que mais se assemelha a uma pilha de lama. De cócoras ou deitados de bruços, varrem o solo com a ponta úmida do pincel. O fedor do lugar poderia afastar pessoas desavisadas, mas, para eles, representa a possibilidade de novos achados. São garimpeiros de formas de vida inéditas lidando com a invisibilidade do mundo subterrâneo, sempre à espera de que um diminuto animal possa dar o ar da graça e se movimentar em meio ao fino sedimento. “Encontrei um pseudoescorpião enorme! Tem outros embaixo de umas pedras”, grita uma bióloga. Da mesma forma que vieram, suas palavras somem na vastidão escura. Tento localizar o inseto, camuflado entre os torrões de areia, até perceber que a palavra “enorme”, dita com tanto entusiasmo, refere-se a uma criatura de uns 8 milímetros de comprimento [...]

Pouco ainda se sabe dos minúsculos e excêntricos animais cavernícolas. Mas essa fauna misteriosa, acreditam os cientistas, pode ser uma das chaves da compreensão de intricados processos evolutivos em condições tão extremas. Se é possível afirmar que as cavernas são as últimas fronteiras ainda não totalmente exploradas pelo homem, a chamada espeleobiologia é a porta de entrada a um labirinto rumo ao desconhecido.

O bagre-cego (Rhamdiopsis krugi) é considerado uma das espécies de peixe troglóbio mais antigas do Brasil. Possui uma estrutura chamada pseudotímpano, que amplia sua percepção sensorial e permite que se oriente na escuridão das cavernas.
[...] O breu da zona afótica, com suas criaturas misteriosas, é o que mais intriga os biólogos. O caminho para lá sempre apresenta dificuldades. Muitas vezes, ao seguir pelo corredor principal da caverna rumo às profundezas, os espeleólogos deparam com salões entupidos por sedimentos e blocos de rocha, trazidos por enxurradas recorrentes, bloqueando a passagem que os levaria a algum provável rio subterrâneo.

Apenas 10% dos animais das cavernas brasileiras foram estudados até hoje, entre eles alguns pequenos crustáceos

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